“Esqueceram de mim” da vida real

Durante a infância, as feições do seu filho único eram muito parecidas com as do ator Macaulay Culkin, que arrancou risos com as peraltices vividas pelo garoto de 8 anos que foi esquecido em casa pela família que passaria o Natal em Paris. O piá, loirinho e com a mesma carinha de sapeca, divertia-se com a comparação com o protagonista do filme Esqueceram de Mim (1990). 

Até a última segunda-feira, apenas a semelhança física promovia o vínculo entre os dois guris – a mãe sempre achou o filho mais bonito até do que o famoso ator. 

Pois faltavam pouco mais de 20 minutos para o compromisso, quando a mãe, sua amiga inseparável e o guri em questão se aprumavam para mais uma doutrinária no centro espírita ao qual frequentam, sempre no mesmo horário e dia. Animadamente, as duas mulheres entraram no carro, estacionado na garagem do condomínio, acompanhadas de perto pelo adolescente de 17 anos. Quando a mãe leva o filho para a aula, todas as manhãs, ele costumava esperar o carro sair da garagem para entrar nele, já que o espaço para acessar o interior do automóvel é um tanto quanto apertado. 

Já no carro, as duas amigas relembravam da festa do último sábado e sequer respiravam entre uma fala e outra. Eis que de repente, o celular toca: “filho chamando”. A mãe logo dispara, contrariada pelo fato de o papo pra lá de animado ter sido interrompido abruptamente pelo passageiro do banco traseiro. “Que brincadeira mais sem graça essa, hein?”. Desliga o telefone, e segue o blá-blá-blá até que…. uma nova ligação aparece na tela: “filho chamando”. A mãe, novamente, protesta: “mas que barbaridade! Para que isso de novo?”. Como não obteve resposta, a mãe, muito rapidamente, procura pelas pernas do filho. 

Como não encontra nenhum corpo ocupando espaço no banco traseiro, a mãe olha para a amiga e questiona: cadê o Bruno? E o que se segue é uma cena de risos incontidos e tão vigorosos que promoveram engasgos e lágrimas volumosas. Já na parte externa do condomínio, as duas amigas retonaram para o ponto de partida. Enquanto isso, a mãe checa a mensagem que havia sido enviada ao whats pelo filho, na terceira tentativa frustrada de estabelecer contato: “esqueceram de mim!”.

Fabiana SparrembergerTenho 47 anos, 26 deles dedicados ao Jornalismo e 17 ao meu maior tesouro: meu filho. Fiz a graduação e o mestrado em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e também tenho MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Há mais de 20 anos, comando equipes na Redação e, atualmente, sou diretora de Jornalismo do Grupo Diário. Além de integrar o grupo de cinco mulheres que compartilham experiências e opiniões diversas no Jogo de Cintura, apresento o programa Faz Sentido, todo domingo, 11h, na rádio CDN e TV Diário, sempre com um convidado para falar sobre saúde mental.

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